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Suzano

O dia é cinza, mas não chove Parece um pesadelo O que escorre não é água Mas é real Molha e colore O mundo está doente A bala não é doce Antes fosse a nossa frente Fere e mata Tudo é fúria Vemos apenas sintomas e não a cura Hoje dez amanhã vinte O amor se esfria Ontem na igreja Hoje na escola Amanhã no banco Depois na rua E no compartilhar dos corpos mortos A maldade perpétua Seria a vida menos valiosa, por não ser a sua? Os covardes se divertem por estarem a salvo Os heróis se entristecem Por não terem salvo todos os alvos O que escorre e mancha É sangue vermelho, é vida E o meu olhar, como o céu Se tinge de cinza... Esses versos não impeço Mas antes não tivesse porque escrevê-los

Inevitável

Eu sinto o peso do tempo A pesada queda das horas Morrendo em cada e a cada minuto Como esmagada por pesadas e imaginarias torras  O coração insiste em respirar A  duras penas os sopros do estômago Que lamentam a angustiante fome do pulmão Inverto o passo pra escapar Adianto  Relógio de pulso em pulso some Galgar de timbre fúnebre agoniante Dos intermináveis tics a tac-tac-tacquear Eu sinto o tempo a me escapar Jessica Leite

Emendas sentidas

Presente. Um sonho  Como um bicho, te amo  Assim, muito e amiúde com grande liberdade e sem Virtude Nenhuma promessa de amor sem mistério maciço e permanente  presente na saudade  de rara beleza. Um desejo simplesmente.  Amo-te, enfim... e de te amar Hei de morrer em teu corpo de repente e te amo Além digo-me com espanto  em luz e em treva só te amar acalma divino sentir de coração e alma...  E que não seja imortal Nem melhor em presença Pois não é maior que a saudade  Mas que dure! (Como é que pode?)  Seja infinito enquanto chama Mesmo que eu não te veja É que um dia sonhei por querer tanto de repente chorei  disse a mim: cessa! Pois vi despertado Sem martírio  o doce exílio  que tinha sonhado... Composição feita de recortes poéticos de três grandes poetas que admiro: Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira e Rimbaud.

Divagação II

Cessa a musa antiga... É provável que cesse a atual também, que já não sabe se canta ou regurgita o whisky de ontem nessa resenha infernal de ressaca brava... De verso em verso o poeta se embriaga dessa água torpe da sarjeta que lhe banha o corpo sem lhe tocar a alma. Pobre coitado em que me espelho... Pobre, desgraçado, coalho, apaixonado, épico, lírico, dramático,  amante, boêmio,  devasso, drogado, tísico, necrófilo, otário! Doido... Porque verso como quem chora de desalento e de desencanto... Protótipo de poeta fracassado esse meu patético lamento. Intimista confessa, única virtude e talento. Lendo os amigos de outrora,  traduções de meus júbilos e tormentos, início às derrotas desse meu pensamento sem forma Mundo,  mundo vasto mundo... A rima em Raimundos, já dizia Drummond,  é rima e não solução. Porém alternativa quando tudo que resta é uma fuga sem destino ou direção. Infinito enquanto dure? Só esse momento pêndulo de melancolia... É qu...
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Texto encontrado no Facebook. Autor desconhecido.
Se eu soubesse que iria ser como tantas vezes foi no arcabouço de memórias mais aquela história repetida em nova versão.  Remake certo todo ar controverso nesse intento sem fim ou regresso finalidade padrão eu seguindo em contra-mão na constante variante de ser eu sem saber... Se eu soubesse ser mais uma memória de impossível celebração tentação contraditória de mais um conto sem noção o meu intento não seria desregrado e meu passo mal-fadado constituiria outro fundamento e mesmo sem saber já imaginava o ocorrido de todas as memórias recriadas nenhuma consagrada vividas em desalinho. Se eu soubesse ser o que já foi tudo aquilo que ainda está por vir desenhava o depois antes mesmo de partir Pra que essa história não seja tão memória quanto as outras que habitam aqui. Se soubesse aquele risco tão parecido aos demais deixava esse vício de errar por saber de mais. Sem temor de despedida não evitaria a dor da partida e o retorno me seria certo. Num tempo de memórias tão vasto quanto...
Viver é mar de desventuras Desordens diversas Opções milhares Proveitos mil Dias impares apesar dos números pares Linha tortuosamente endireitada Se a calida brisa De uma tarde morna Insolitamente reclama Tua profunda lembrança morta A curva da esperança - Improviso previsto - revela Presente tua sina inglória Um carma definido: Se amar é abismo inevitável Atira-te no precipício sem hora O bom é breve, não importa quanto dure Não teme a partida, colhe a demora Se o fim é solidão, depois preocupa-te com a cura Entraga-te ao momento Desfruta o sabor do vento Se o chão é certo Como certa a morte é Não te agonia na espera Cessa o teu medo Cessa o que eras Deixa que o prazer impere Descobre tua essência Goza a tua  queda.